Sem Splitter, sem defesa

Mesmo sendo escolhido pelo conceituado técnico Gregg Popovich para ser titular do San Antonio Spurs, Tiago Splitter ainda parece não ter caído definitivamente nas graças de toda a torcida da franquia texana. A suposta falta de ímpeto do pivô brasileiro, especialmente no ataque e na coleta de rebotes, ainda é um empecilho para que ele possa ser tratado como ídolo. Mas quem se restringe a esta análise parece estar cada vez mais errado. Dia a dia, aumenta a importância do camisa #22, especialmente na defesa. Nas últimas três partidas, com o catarinense afastado por conta de uma lesão na panturrilha esquerda, fica evidente o quanto a proteção do aro se torna deficitária sem o jogador embaixo da cesta.

Splitter é peça-chave no quinteto titular (NBAE/Getty Images)

Ao longo da temporada, com Splitter em quadra, o Spurs sofre 86,9 pontos a cada 100 posses de bola da equipe adversária, a melhor marca de todo o elenco da franquia texana. Para se ter uma noção, o segundo melhor é Danny Green, com 90,0 – uma diferença respeitável. Além disso, dos dez quintetos mais utilizados por Pop durante o campeonato, o pivô brasileiro está em três dos cinco com o melhor índice defensivo neste recorte.

Com Splitter em quadra, o Spurs fez 5,2 pontos a mais que seus adversários ao longo da temporada 2013/2014 da NBA até aqui. A marca é a sexta melhor de todo o elenco do alvinegro texano, atrás de Manu Ginobili (8,2), Marco Belinelli (6,8), Boris Diaw (5,9), Tony Parker (5,7) e Danny Green (5,6). Nota-se que o pivô é o segundo jogador de garrafão de todo o plantel com melhor saldo de cestas, à frente ainda de Tim Duncan (4,9), Matt Bonner (3,5), Jeff Ayres (2,4) e Aron Baynes (-0,7) – o último, vale ressaltar, não faz parte regularmente da rotação, o que costuma deformar este tipo de estatística.

Mas o maior impacto de Splitter no Spurs está na proteção do aro. Ao longo desta temporada, os adversários do time texano têm convertido somente 37,5% de seus arremessos feitos de perto da cesta quando marcados pelo pivô brasileiro. Entre os jogadores de garrafão que disputaram ao menos dez partidas na temporada e têm média igual ou superior a 15 minutos por jogo, a marca é a quinta melhor de toda a NBA, atrás apenas de Kendrick Perkins, do Oklahoma City Thunder (29,8%); Taj Gibson, do Chicago Bulls (31,0%); Ed Davis, do Memphis Grizzlies (34,0%); e Andrew Bynum, do Cleveland Cavaliers (34,5%).

Quem olha para Splitter apenas no ataque constrói uma impressão equivocada sobre o jogador. É verdade que um pivô que prefere finalizar com fintas, ganchos e bandejas pode parecer “soft” em uma liga com Dwight Howard, Tyson Chandler e Andre Drummond, por exemplo. Mas atribuir este rótulo ao camisa #22 mesmo vendo como ele consegue contestar arremessos de jogadores tão mais atléticos do que ele me parece um pouco injusto.

Quando saiu a notícia da renovação contratual de Splitter, durante a última offseason, minha primeira reação foi ficar um pouco assustado com os valores do novo vínculo do catarinense com a franquia texana. Mas depois, pensando com um pouco mais de calma, já havia escrito outra coluna defendendo o pivô brasileiro. Hoje, vou além ao dizer que considero os US$ 36 milhões que o camisa #22 ganhará no total em quatro anos uma pechincha.

Quem olhar só para o boxscore nunca vai ver a importância de Splitter para o Spurs. Quem restringir a análise às suas médias, que são de 8,4 pontos, 6,6 rebotes e 0,5 tocos em 20,8 minutos por exibição, não vai enxergar o quanto ele é fundamental. A equipe texana sofreu 93,1 pontos por jogo em seus 19 primeiros compromissos na temporada. Nos últimos três, foram 96,7 por partida. A diferença? A ausência do pivô brasileiro, machucado. Entendeu?

Sobre Lucas Pastore

Um dos fundadores do Spurs Brasil. Formado em Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2010, é site manager da Fifa e podcaster do Cultura Pop. Cobriu o basquete olímpico na Olimpíada de 2016 pelo LANCE!. Trabalhou também para UOL, Basketeria e mob36.

Publicado em 14/12/2013, em Na linha dos 3. Adicione o link aos favoritos. 3 Comentários.

  1. Lucas, parabéns pela análise realista, baseada em fatos e não em impressões/opiniões de torcedores, alguns jornalistas etc. Tiago sempre foi um jogador que não dá show, nem faz muitos pontos, mas é extremamente eficiente!! foi pela sua eficiência, e não pelos seus pontos, que ele se tornou o melhor jogador espanhol na temporada e nas finais (vale comentar que a maneira de calcular a eficiência na europa é bem mais realista que a da NBA). Não é por acaso que ele recebeu esta renovação de contrato!!! só não percebe isto quem não tem muita noção de basquete!! Por isto, alguém dizer que Tiago é um jogador horrível e sofrível, não é uma questão de opinião, é falta de noção, falta de informação…é quase como dizer que o Neymar, jogador de futebol, tem 2 metros de altura!!!!!!! é um fato que Neymar não tem esta altura, não é uma questão de opinião….rsrsrs!!!

  2. Concluindo Lucas, em geral (independente deste site) precisamos muito deste tipo de reportagens, baseadas em fatos! parabéns novamente…

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